folhapress -31/05/2025 18:25
Quando a QSI (Qatar Sports Investments) comprou o Paris
Saint-Germain, em 2011, a promessa era de um título europeu em até cinco anos.
Demorou mais do que isso. Porém, na noite alemã de sábado (31), em Munique, o
clube francês alcançou o primeiro troféu da Champions League de sua história
com um massacre.
Em um jogo altamente desequilibrado na Allianz Arena, o time
dirigido pelo espanhol Luis Enrique derrotou a Internazionale por 5 a 0. Com
uma atuação coletiva imponente e um desempenho individual marcante do jovem
atacante Désiré Doué, de 19 anos, destruiu um adversário que buscava o tetra.
O país recebeu a última Copa do Mundo, decidida em uma
grande final entre Argentina e França. A cidade de Lusail foi palco de um duelo
memorável entre Lionel Messi e Kylian Mbappé, que eram jogadores do PSG. Mas
não foi com esses craques que a equipe alcançou a glória continental anunciada
há 14 anos.
Messi partiu ao fim da temporada 2022/2023, assim como o
brasileiro Neymar, outro que deixou o clube sem cumprir o objetivo principal.
Mbappé saiu um ano depois, iniciando uma arrastada disputa jurídica com o Paris
Saint-Germain e liberando o técnico Luis Enrique para desenhar o time à sua
maneira.
O espanhol não escondia a irritação com a aversão do francês
a orientações táticas. O atacante se recusava a oferecer grande ajuda aos
companheiros quando não tinha a bola nos pés. Sem ele, a equipe passou de um
modelo baseado no talento de um supercraque a um jogo de esforço coletivo e
disciplina.
"Nosso jogo não consiste mais em deixar o Mbappé fazer
o que ele quer. Essa era a velha filosofia, que não rendeu nenhum troféu
grande", disse o desbocado asturiano, que se apresentou ao PSG há dois
anos com um estilo contrastante em relação ao de seus antecessores, cheios de
dedos para lidar com os astros.
Luis Enrique chegou nesta temporada a deixar Ousmane Dembélé
no banco antes de fazer dele um candidato à Bola de Ouro. O atacante, hoje com
28 anos, foi de eterna e inconsistente promessa da ponta a excelente atacante
central, com 33 gols marcados em 48 partidas, oito deles na Liga dos Campeões.
Na decisão, Dembélé não precisou balançar a rede. Ficou
clara desde o início a superioridade do PSG, que controlou a posse de bola e
trocou passes até chegar à rede. O primeiro gol saiu aos 12 minutos da etapa
inicial, quando Vitinha teve excelente visão para achar Doué na grande área.
Doué também teve excelente visão, e Hakimi só precisou tocar para o gol vazio
na pequena.
Jogador da Inter na temporada 2020/21, o marroquino preferiu
não celebrar efusivamente o lance. Um pudor que Doué não precisou demonstrar
aos 20, em contra-ataque bem construído por Kvaratskhelia e Dembélé. Seu chute
foi desviado em Dimarco, o que tornou difícil a reação do goleiro Sommer.
A Internazionale tinha dificuldade para ter a bola (39% de
posse na etapa inicial) e só esteve perto do gol no primeiro tempo em um
escanteio, com cabeceio de Thuram. Já o PSG desperdiçou oportunidade uma clara
com Dembélé, pouco antes do intervalo, e duas com Kvaratskhelia, pouco depois.
Mas a superioridade era tão evidente que a goleada acabou
sendo estabelecida. Aos 18 minutos, uma jogada com toque de calcanhar de
Dembélé e passe preciso terminou em finalização também precisa de Doué. Aos 28,
foi a vez de Kvaratskhelia receber de Dembélé na cara do gol e finalizar bem.
Aos 42, Mayulu fechou a contagem.
Poderia ter sido mais, mas, com várias chances perdidas, o
placar final apontou mesmo 5 a 0. Mais do que suficiente para o zagueiro
Marquinhos se tornar o segundo brasileiro a erguer, como capitão, a taça da
Champions League -o lateral Marcelo, então no Real Madrid, foi o responsável
pelo ato na temporada 2021/22.
O PSG completou, assim, a tríplice coroa da temporada
2024/25, juntando a taça da Champions League à do Campeonato Francês e à da
Copa da França. Mas era mesmo o troféu internacional que importava a um clube
que ganhou 11 das últimas 13 edições de sua liga nacional, sem concorrentes de
investimento parecido.
Há divergências nos números apresentados, pouco
transparentes. Segundo a agência de notícias francesa AFP, a QSI gastou US$
2,28 bilhões (R$ 12,9 bilhões) em contratações desde que assumiu o time. Com o
cerco jurídico a Nasser al-Khelaifi, investigado na França, os investimentos
diminuíram, mas não a ponto de impedi-lo de cumprir -com atraso- a promessa do
título europeu.