el pais -16/10/2021 11:05
Na semana passada, um enorme exemplar escuro de peixe-lua
deixou perplexos biólogos e pescadores na almadrava de Ceuta. O animal caiu nessa armação de redes de pesca, mas,
antes de soltá-lo, eles o mediram e extraíram amostras de seu DNA. Tinha quase
três metros da boca à cauda e 3 metros e 20 centímetros de largura.
Tentaram pesá-lo, mas a balança não aguentou porque calculou
apenas até 1.000 quilos, que o peixe facilmente ultrapassava. Esta espécie é
o peixe ósseo mais pesado do planeta. Pouquíssimos
exemplares foram encontrados na Espanha na última década, nenhum dessas dimensões,
segundo os especialistas.
“Foi muito excepcional porque devia ter em torno de duas
toneladas. Um espécime capturado no Japão que media 2,7 metros pesava 2,3 toneladas. É uma
espécie pelágica difícil de estudar, mas dá para ver muitos nas almadravas”,
explica Enrique Ostalé, coordenador da Estação Biológica Marinha do Estreito da
Universidade de Sevilha, com sede em Ceuta.
A captura foi no dia 4 de outubro, a apenas 500 metros da
costa de Ceuta, um paraíso para ver espécies como tartarugas-cabeçudas e
tartarugas verdes, baleias e golfinhos por causa da corrente que vem do
Estreito.
O mergulhador Sergio Guzmán mergulhou para fazer a varredura
da captura daquele dia e alertou seis biólogos sobre o achado, e eles
prontamente atenderam ao chamado para analisar o animal.
“Há dois anos vimos um pesando mais de 500 quilos, mas esse
era incrível”, resume o mergulhador. As redes dessa almadrava de Ceuta costumam
capturar muitos exemplares de peixe-lua, soltos de imediato junto com outras
espécies, e no ano passado chegaram a pegar 572 exemplares em um único dia.
Nenhum com o porte majestoso, enigmático e deslocado, como recém-saído de um
aquário descomunal, que apresentava o animal da semana passada, da espécie mola
alexandrini.
O peixe-lua, cujo nome científico é mola mola, é uma espécie
em estado de vulnerabilidade —cuja população está diminuindo, segundo a União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)— que sulca as águas
temperadas dos oceanos do mundo. “Não é comercializado porque pode conter toxinas
e se alimentar de organismos planctônicos, larvas de peixes e medusas. Já vimos
muitos na costa galega porque se deitam sobre si mesmos e carregam gaivotas que
lhes tiram os vermes”, explica Eva Velasco, pesquisadora do Instituto Espanhol
de Oceanografia em Vigo.
Velasco faz parte do projeto Diversimar, um guia de espécies marinhas que, graças à colaboração dos
cidadãos, permite a identificação de peixes de grande porte na costa da Galícia
e no mar Cantábrico.
“Uma das questões pendentes é saber por que caem tão poucos
peixes-lua nas almadravas de Barbate —no outro lado do Estreito— e aqui tantos.
Talvez seja por causa das distribuições por correntes”, acrescenta Ostalé,
biólogo do grupo de pesquisa do Laboratório de Biologia Marinha da Universidade
de Sevilha e que desde 2018 estuda estes espécimes com o biólogo suíço Lukas
Kubicek.
Ambos os pesquisadores publicaram um capítulo sobre a espécie no livro Los peces luna del océano: evolución, biología y conservación. Ostalé também é o autor do vídeo subaquático que mostra como o peixe-lua sai da almadrava de Ceuta em ritmo vagaroso depois de ficar 15 minutos pendurado pelas cordas e ganchos do convés de uma embarcação para ser analisado por cientistas.