g1/reuters -04/08/2020 23:03
Uma explosão na região portuária de Beirute deixou ao
menos 78 mortos e cerca de 4 mil feridos nesta terça-feira (4), segundo a
contagem oficial do governo do Líbano. A suspeita é que a
explosão tenha partido de um armazém que guardava nitrato de amônio, um tipo de
fertilizante.
O presidente do país, Michel Aoun, disse que a capital deve
declarar estado de emergência para as próximas duas semanas e defendeu
ser "inaceitável" que 2.750 toneladas de nitrato de amônio
fossem armazenadas por seis anos em um depósito sem a segurança
necessária.
"Há muitos desaparecidos. As pessoas estão perguntando ao departamento de emergência sobre seus parentes e é difícil procurar à noite porque não há eletricidade", disse ministro libanês da Saúde, Hamad Hasan à agência de notícias Reuters.
"Estamos diante de uma verdadeira catástrofe e
precisamos de tempo para avaliar a extensão dos danos" – Hamad Hasan,
ministro da Saúde
Apesar de o país já ter sido alvo de terroristas e viver
período de instabilidade política, não há evidência de que se trate de um
atentado terrorista.
O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, disse em um
pronunciamento que o país enfrenta uma catástrofe e declarou luto oficial
de três dias. Ele disse também que o governo irá investigar os responsáveis
pelo armazém que funcionava no porto da capital desde 2014.
"Eu prometo que esta catástrofe não passará sem que os
culpados sejam responsabilizados. Os responsáveis pagarão o preço" –
Hassan Diab, primeiro-ministro
O nitrato de amônio, por si só, é relativamente pouco
explosivo – mas tem grande potencial explosivo. Ele se apresenta como um
pó branco ou em grânulos solúveis em água e é seguro, desde que não aquecido. A
partir de 210 °C, decompõe-se e, se a temperatura aumentar para além de
290 °C, a reação pode tornar-se explosiva.
Um incêndio, tubos superaquecidos, fiação defeituosa ou
relâmpagos podem ser suficientes para desencadear tal reação em cadeia.
Ouvida a mais de 200 km
A explosão no porto causou destruição em larga escala e
quebrou o vidro de janelas a quilômetros de distância. Alguns barcos que
navegavam próximos à costa do Líbano chegaram a ser balançados pela força da
explosão. As explosões chegaram a ser ouvidas em Larnaca, no Chipre, a
pouco mais de 200 km da costa libanesa.
Explosão
em Beirute: o que se sabe e o que falta saber
O chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, disse
em entrevista a uma rede de televisão que a explosão aconteceu em uma área
que armazena materiais altamente explosivos, o nitrato de amônio, mas que não
são explosivos em si.
Uma embarcação da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) foi danificada após a explosão no porto. Em um comunicado, os capacetes azuis informaram que alguns membros da missão de paz se feriram e foram transferidos para hospitais do país.
Segundo a Cruz Vermelha, barcos foram mobilizados para
resgatar pessoas que foram jogadas ao mar após a explosão. Também segundo a
organização humanitária, ainda há gente presa nos escombros e dentro de suas
casas.
A emissora libanesa LBCI informou que o hospital Hôtel-Dieu
de France, no centro da capital libanesa, atende a mais de 500 feridos. O
governo da capital pede que os feridos sejam levados para atendimento em
centros de saúde de fora da cidade.
Há operações para retirar as pessoas da região, de acordo
com agência oficial, a NNA.
Um fotógrafo da agência norte-americana Associated Press, que trabalha perto do porto de Beirute, contou ver pessoas feridas no chão e uma destruição generalizada no local. O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison disse, em entrevista ao Channel 4 que há ao menos um australiano entre os mortos e que a Embaixada do país foi "fortemente comprometida".
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que
a explosão "se parece com um terrível ataque" e disse que
seu país está pronto para ajudar. E o Itamaraty disse em nota que o Brasil
se solidariza com as vítimas da explosão no porto de Beirute.
Emmanuel Macron, presidente da França, disse em uma rede
social que vai enviar voluntários da defesa civil e médicos "o mais
rapidamente" para apoiar os hospitais do Líbano no atendimento aos
feridos em Beirute.
Veredito de julgamento
O Líbano vive um período de instabilidade política. No
fim do ano passado, o primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu
um período com um vácuo de poder, até que Hassan Diab assumiu e anunciou a
formação de um novo governo em janeiro.
Nesta sexta-feira (7), um tribunal apoiado pela ONU deve
divulgar seu veredito no julgamento contra quatro homens acusados de terem
participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em
2005, uma etapa fundamental em um longo processo no qual os suspeitos continuam
em liberdade.
Líbano
está imerso numa catástrofe econômica
Os réus, todos membros do movimento xiita do Hezbollah,
estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede
em Haia, encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um
carro-bomba no centro de Beirute. Nele, morreram o bilionário sunita e outras
21 pessoas.
O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses
foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a
retirada das tropas sírias do país, após uma presença de 30 anos no país.
Em março deste ano, o país deu um calote em seus credores. O Líbano deveria reembolsar US$ 1,2 bilhão em títulos do Tesouro, dos quais uma parte significativa está nas mãos dos bancos e do Banco Central, e decidiu não fazer isso.
Embarcação brasileira
A Fragata Liberdade, da Marinha do Brasil, está no mar do
Líbano, mas distante do local da explosão. A Marinha publicou uma nota na qual
informou que os militares estão bem e não há feridos. A embarcação não estava
na área do porto onde ocorreu a grande explosão.
"A Marinha do Brasil informa, com relação à explosão
ocorrida em Beirute, hoje, que todos os militares componentes da Força Tarefa
Marítima (UNIFIL) da MB estão bem e não há feridos. A Fragata Independência
encontra-se operando no mar, normalmente. O navio estava distante do local onde
ocorreu a explosão. Outras informações serão passadas tempestivamente." –
Centro de Comunicação Social da Marinha