antonio jose do carmo/fotos moises eustaquio -15/08/2019 09:45
Por
que a gente acha normal incêndios e destruições na Ilha Comprida ( Rio Paraná
), entre Castilho e Três Lagoas? Quase todos os anos é assim. Mas em alguns
anos, não. E talvez por isso mesmo os intervalos maiores são mais catastróficos
porque a fauna e a flora tiveram mais tempo para se recuperarem.
Até quando vamos admitir as mortes dos animais queimados por causas até hoje
desconhecidas desses incêndios? A quem interessa essa destruição? Cenas
desesperadas de macacos, cervos pantaneiros e uma infinidade de outros bichos
tentando atravessar o rio. Alguns conseguem, mas a maioria morre cercada pelas
labaredas de fogo e queimada, com lento sofrimento e longa agonia.
Um dos motivos é a falta de indignação e a passividade da população que vive no
entorno. Os investidores privados e o Governo que incentivam o turismo em ambas
as margens do Paranazão deveriam se unir para transformar a ilha num ambiente
de exploração turística sustentável, um safari, com as unidades de fiscalização
e os sistemas que se imaginam serem necessários para preservar e fiscalizar o
local.
Dizer
que por ser uma ilha não é possível ter acesso é uma vergonha. Não tem, mas
deveria ter. As balsas desapareceram porque acabaram se envolvendo em transportes
ilegais. Mas em pleno século 21, isso não deve ser motivo para não se pensar
numa solução inteligente para preservar e tornar-se sustentável toda a ilha.
As
justificativas das autoridades responsáveis, divulgadas pela mídia nacional,
foram estarrecedoras. Primeiro que no Bom dia São Paulo de quarta-feira, 72
horas depois de iniciado o incêndio, o âncora da Globo disse que desconhecia
completamente a existência daquela ilha.
As
autoridades ambientais foram do “a gente demorou para ficar sabendo”, até a
imprecisão para informar se houve ou não controle total dos focos de incêndio.
Mas sem dúvida a desculpa mais cômica foi: “a ilha é desabitada e de difícil
acesso, sem água disponível para combater os incêndios”. Deve estar na
Amazônia, então. Faça-me o favor!!
Bem,
para mim, com 40 anos de jornalismo está faltando repórter. Está faltando
investigar melhor, informar direito. Está faltando jornalismo para mostrar que
os responsáveis precisam simplesmente assumirem suas funções. É o que tento
fazer agora.
A Ilha
Comprida foi desabitada por causa das enchentes anuais. Isso foi em 1982 a
maior delas. As dificuldades de resgate e a necessidade de evitar a repetição
desse problema fez a CESP, com anuência do IBAMA, transformar a Ilha, com 18
quilômetros de extensão, numa reserva legal ambiental. Ela é pagamento
ambiental da CESP ao meio ambiente, a todos nós.
Pelo contrato assinado com a concessionária chinesa CTG, os passivos ambientais
da CESP são de responsabilidade do novo administrador. Sendo assim, cabe aos
defensores jurídicos legais do patrimônio ambiental da região ( Federal e
Estadual ), se unirem para em ação conjunta com as empresas responsáveis,
encontrem uma saída mais inteligente que deixar o fogo destruir todos os anos,
uma reserva que deveria estar gerando empregos e movimento a economia tanto em
Três Lagoas (MS), como em Castilho (SP).
Esperamos
que entre outros motivos da falta de agilidade jurídica, não seja a eterna
dúvida se a ilha Comprida é do Estado de São Paulo ou do Mato Grosso do Sul.
Logo não será de ninguém. Vai virar um deserto.