Lucas Dantas/G1-Presidente Prudente -23/07/2025 09:28
Ministério Público quer saber
por que houve a desativação da Estação de Piscicultura da Cesp, em Castilho
A Promotoria de Justiça de Panorama (SP) expediu
ofícios à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) cobrando
explicações sobre a fiscalização e a falta de repovoamento de peixes há mais de
uma década no Rio Paraná, por parte da Companhia Energética de São Paulo
(Cesp), após a desativação da Estação de Piscicultura, em Castilho (SP).
Além disso, foram solicitados à própria Cesp um esclarecimento acerca da desativação da estação e o histórico de ações voltadas à recomposição dos peixes no rio. Em nota oficial enviada nesta segunda-feira (21) ao G1, o MP de São Paulo (MPE-SP) pontuou que:
“A Promotoria de Justiça de Panorama recebeu ofício
encaminhado pela Câmara Municipal de Paulicéia (SP) noticiando a desativação da
Estação de Piscicultura da Cesp, localizada no município de Castilho, cuja
inatividade estaria impactando a atividade pesqueira no Rio Paraná e,
consequentemente, a economia local de Paulicéia, baseada no turismo de pesca.
Diante da relevância ambiental e socioeconômica da matéria, foram expedidos ofícios à Cetesb e ao Ibama, solicitando informações sobre o processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica (UHE) Engenheiro Sérgio Motta, as obrigações relacionadas à preservação da ictiofauna, notadamente quanto à soltura de alevinos, manutenção da Estação de Piscicultura de Castilho e eventuais medidas compensatórias, bem como ações de monitoramento da fauna ictiológica no trecho paulista do Rio Paraná.
Também foram solicitadas informações à própria
Companhia, com pedido de esclarecimentos acerca da desativação da estação e do
histórico de ações voltadas à recomposição da fauna aquática. No momento, a
Promotoria de Justiça aguarda as respostas aos ofícios expedidos”.
O G1 publicou no último dia 28 de junho uma matéria
especial exclusiva sobre o assunto e os órgãos apresentaram, na ocasião, as
seguintes justificativas aos questionamentos feitos pela reportagem:
A Cesp esclarece que, durante o processo de
licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, foram
conduzidos diversos estudos técnicos e audiências com especialistas em
ictiofauna. De forma unânime, esses profissionais recomendaram a suspensão do
programa de peixamento, diante da ausência de evidências que comprovassem sua
eficácia, bem como devido a possibilidade de impor riscos negativos à
conservação dos peixes. A medida foi acatada pelo Ibama com base nessas
conclusões técnicas e permanece válida até a finalização de estudos
complementares que estão em andamento.
O Ibama, por meio de Parecer Técnico e Ofício,
reconheceu que a suspensão se deu a partir de discussões com especialistas e
resultados do Subprograma de Produção de Alevinos, realizados no âmbito do
licenciamento. Conforme destacado pelo órgão, não havendo motivações técnicas
para dar continuidade à atividade, o Ibama acatou a recomendação dos
pesquisadores.
Importante reforçar que, mesmo com a suspensão do
peixamento, a Cesp segue comprometida com a conservação da ictiofauna. Vale
destacar a implementação do Subprograma de Conservação da Qualidade Ambiental
dos Rios Tributários, com ações voltadas à preservação dos ambientes, em
especial os hábitats reprodutivos naturais dos peixes e ao equilíbrio ecológico
dos ecossistemas aquáticos da região.
É importante frisar que o peixamento, apesar de
tradicionalmente associado como medida benéfica ao meio ambiente, pode gerar
desequilíbrios ecológicos e prejudicar a biodiversidade quando não embasado em
evidências científicas robustas. A decisão do Ibama de suspender o programa
visa justamente preservar o equilíbrio da ictiofauna e implementar outras ações
comprovadamente mais efetivas à manutenção da pesca e conservação dos peixes.
A Cesp segue à disposição para colaborar com as
autoridades competentes e com a comunidade, prezando sempre por decisões
técnicas, transparentes e sustentáveis”.
CETESB - Em nota oficial enviada ao G1, a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo informou que “o referido empreendimento não é
licenciado pela Cetesb”.
IBAMA - O G1 pediu um posicionamento oficial ao
Ibama e o órgão federal alegou que “prefere não se pronunciar, no momento,
sobre o assunto”.
DENÚNCIA - A Câmara Municipal de Paulicéia enviou,
em 6 de junho, um ofício ao MPE-SP, ao Ministério Público do Estado de Mato
Grosso do Sul (MPE-MS), ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul
(Imasul), à Cetesb e à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística
do Estado de São Paulo (Semil-SP), solicitando a intervenção dos órgãos para
verificar e fiscalizar a Estação de Piscicultura da Cesp, em Castilho.
Conforme o Poder Legislativo, a estação não realiza
a soltura de alevinos há pelo menos 12 anos e não existe nenhum tipo de
informação a respeito do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) nem, tampouco, do
Relatório de Impacto Ambiental (Rima) sobre a quantidade de peixes no Rio
Paraná.
Pescadores ouvidos pela reportagem do G1 explicaram
que as espécies nativas da Bacia do Rio Paraná quase não existem mais, o que
prejudica as pessoas que vivem da pesca na região.
Além disso, os trabalhadores sobrevivem com outras exóticas que apareceram, causando uma deterioração do ecossistema nativo.