O Dia das Mães desse ano foi marcante para uma família de Andradina, a de dona Maura Colato dos Santos Silva, que após 49 anos reencontrou a filha Maria de Lourdes Silva deixada em Atalaia [Alagoas] quando ela se mudou com o marido Luiz Ferreira da Silva e duas crianças para cultivar terras no estado do Paraná a convite de um cunhado dela.

A espera terminou por volta de 3h da madrugada desse domingo, na casa simples de número 375 da Rua Iguaçu, no bairro Stella Maris, após horas de voo, quase três mil quilômetros de distância, muita ansiedade e saudade.

E para testar ainda mais o coração de mãe, filha e familiares, o avião que fazia o percurso entre Campinas e Araçatuba teve que retornar porque um passageiro se sentiu mal, protelando em mais de quatro horas o tão aguardado reencontro.

HISTÓRIA

Maria de Lourdes foi deixada com o avô porque estava doente e a viagem exigia muito sacrifício, o que poderia colocar em risco a vida da menina, contou dona Maura, na entrevista exclusiva ao Impacto Online.

“Fui orientada que não poderia ir com a filha de nove meses porque caso a criança morresse seria jogada no mato como um bicho bruto. Por isso a deixei como meu pai e levei as outras duas comigo”, narra a idosa.

Com mais dois filhos nascidos no Paraná, um já falecido e Aparecido Ferreira, dois anos depois o casal se mudou para Andradina e nunca mais teve contato com a filha no Nordeste, parte por conta do extravio de cartas.

Aqui Maura e Luiz tiveram mais filhos, totalizando oito, todavia, apenas seis vivos. Ela lavava roupas para fora e ele trabalhava em barragens para sustentar a família. Luiz morreu.

AJUDA DA REDE SOCIAL

A “filha perdida” foi encontrada via rede social pelo sobrinho Gustavo Ferreira, em setembro passado, através do raro sobrenome Colato. Nessa busca o jovem também descobriu uma prima até então desconhecida. A partir dai iniciaram contatos e após quinze dias se confirmou a descoberta.

Porém, na tentativa de encontrar os pais Maria de Lourdes escreveu para várias emissoras de TV. Mas quando recebeu informações do sobrinho Gustavo pôde confirmar que se tratava de sua família. “Cai em lágrimas, afinal foram quase 50 anos de expectativa e espera. Achei que minha mãe já tivesse falecido e nem sabia que tinha mais irmãos”, comentou.

“Felizmente, agora Deus me concedeu essa graça e minha felicidade é tremenda”, admite a filha alagoana.

Em Atalaia, com a morte dos avôs, Maria de Lourdes foi criada pelas tias. Se casou duas vezes porque o primeiro marido morreu num acidente. É mãe de dois filhos, um com 26 e outro 23 anos; e tem netos. Atualmente reside no distrito de Santo Antônio [Maceió].

SEM MÁGOAS

“Não tenho mágoa nenhuma em ter sido deixada para trás, o motivo não importa, pelo contrário, amo minha mãe porque ela é única. E na minha concepção, achei que já era morta porque me avô contava sobre um incêndio ocorrido na casa e que moravam no Paraná”, diz Maria de Lourdes.

Emocionado, Gustavo disse que iniciou a busca porque via a angústia da avó durante os almoços em família quando sempre contava os filhos, relembrava o passado, citava o nome da criança deixada com os pais e isso o incomodava. “Mas Deus me deu o privilégio de encontrá-la”, afirmou.

No final do ano, mesmo ainda na dúvida, o jovem e a mãe foram ao Nordeste para ratificar o parentesco com Maria de Lourdes e organizar sua vida ao interior paulista para conhecer a mãe e demais familiares.

Para a irmã Terezinha, a mais velha do clã com 52 anos, o reencontro é um sonho que virou realidade. “A emoção é tamanha que não cabe no coração.”