folhapress -12/02/2024 16:03
Análise inédita feita pela plataforma SP Covid-19
Infotracker, criada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mostra que a capital paulista
registrou aumento de 140% de casos positivos de Covid em duas semanas. Com o
avanço, cresce a preocupação dos especialistas de que haja uma explosão de
registros da doença no pós-Carnaval.
A média móvel semanal saiu de 168 casos no dia 21 de janeiro
para 404, no dia 4 de fevereiro, último dado disponível no painel da Secretaria
Municipal da Saúde.
Se considerados períodos anteriores, o salto é ainda maior.
Em relação a 24 de dezembro de 2023, data em que foram registrados 91 casos,
por exemplo, o aumento é de 344%.
Laboratórios e hospitais também registraram alta da taxa de
testes positivos de Covid. Segundo a Abramed (Associação Brasileira de Medicina
Diagnóstica), janeiro deste ano fechou com um índice de 26% de confirmação, o
dobro do computado no mesmo mês de 2023 (13%).
No Hospital Albert Einstein (SP), a alta de testes positivos
nas cinco primeiras semanas deste ano foi de 43% (707 contra 1.013) em relação
ao mesmo período de 2023.
Segundo Wallace Casaca, coordenador da plataforma
Infotracker, há um aumento consistente de casos desde o final do ano passado.
Os dados disponíveis não indicam alta de internações ou mortes.
"A gente espera um pico de casos de Covid nas próximas
semanas. Bem menor, bem menos grave do que vimos em anos anteriores, devido à
vacinação, mas teremos um boom, sem dúvida."
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas
(SP), tem avaliação parecida. "Agora, no pós-Carnaval, vai ser uma
explosão de casos, felizmente sem gravidade", diz.
Segundo Renato Kfouri, infectologista e vice-presidente da
Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), as aglomerações do Carnaval sempre
provocam uma alta no número de casos quando já existe uma onda em curso.
"Se tem uma tendência de aumento, com a circulação
aumentada do vírus, a proximidade entre as pessoas potencializa a transmissão e
deve acelerar um pouco no pós-Carnaval."
Embora a Covid não seja mais uma emergência de saúde desde
2023, e, com a alta taxa de vacinação pacientes com a doença tem sintomas cada
vez mais leves, parecidos com uma gripe ou sinusite, o Ministério da Saúde diz
que o protocolo a ser seguido permanece o mesmo.
De acordo com a nota mais recente, medidas como isolamento,
uso de máscaras e higienização sanitária seguem importantes,
"principalmente para aquelas pessoas em maior risco para desenvolver
doença grave, e para reduzir as chances do desenvolvimento de condições
pós-Covid com cada nova infecção".
O último Boletim InfoGripe da Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz), divulgado na quinta (8), mostra aumento no número de novos casos de Srag
(Síndrome Respiratória Aguda Grave) associados à Covid-19 em vários estados da
região Norte, especialmente no Amazonas e no Tocantins, e no Mato Grosso
(Centro-Oeste).
A análise é referente à semana epidemiológica 5, de 28 de
janeiro a 3 de fevereiro, e tem como base os dados inseridos no Sivep-Gripe
(Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe) até o dia 5 de
fevereiro.
De acordo com a análise, apesar de haver um sinal de
possível desaceleração do crescimento entre os idosos no Pará, isso não ocorre
entre as crianças e os adultos jovens, faixas nas quais segue o aumento.
Segundo Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz e coordenador
do InfoGripe, a recomendação para as pessoas de grupos de risco (de idade
avançada ou que tenham alguma imunossupressão, por exemplo) é não pular
Carnaval.
"Fica em casa, curte os desfiles pela TV, escuta pelo
rádio, para não correr o risco de acabar se expondo e eventualmente desenvolver
um caso grave."
Para Wallace Casaca, o principal fator associado à alta de
casos é a circulação de novas variantes do coronavírus.
De acordo com a plataforma de sequenciamento mantida pela
Fiocruz, as subvariantes da Ômicron que estão levando a essa rápida escalada
são as do grupo JD e a do grupo JN.
"Pela tendência, a JN.1 [descendente da variante
Pirola, que é a BA.2.86), e subvariantes derivadas desse grupo têm ultrapassado
as demais na corrida da transmissão", afirma Casaca.
A cepa é também a que mais está em circulação nos Estados
Unidos. Detectada pela primeira vez no país em setembro do ano passado, a JN.1
foi responsável por 44% dos casos de Covid em meados de dezembro, muito acima
dos cerca de 7% registrados no final de novembro, segundo o CDC (Centros de
Controle e Prevenção de Doenças), agência do governo americano.