g1 -11/01/2019 00:25
"Parem
de querer beijar bebê que não é seu" — este é o pedido de Rafaela Moreira
feito em um post no Facebook da última sexta-feira (4). Ela afirma que o filho,
Gustavo, foi infectado com herpes aos 17 dias de vida — por causa do beijo de
uma visita, segundo declarações feitas ao jornal "Extra". A
publicação viralizou, com mais de 185 mil compartilhamentos e 25 mil
"likes".
Rafaela
contou ao jornal que, um dia antes de aparecerem as bolhas no rosto do
neném, ele chorava muito, e ela chegou a achar que poderiam ser cólicas. Quando
viu as marcas, levou um susto. "O rosto dele estava todo infeccionado, aí
eu o levei de imediato ao hospital, onde a médica contou que o herpes foi
contraído pelo beijo. Ela recomendou que nessa fase a gente tem que evitar
visitas", relatou.
O G1 ouviu
especialistas para entender por que o vírus que causa o herpes — que afeta mais
de 4 bilhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
— é tão perigoso em bebês. Também listamos algumas dicas de cuidados que devem
ser adotados na hora de visitar quem acabou de chegar ao mundo.
Kléber Luz,
infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), explica que o herpes, bastante comum em adultos, traz risco para
recém-nascidos porque o sistema imunológico deles ainda é muito frágil.
"O
recém-nascido tem as defesas muito baixas. O herpes, no recém-nascido, tem uma
característica: invade o sistema nervoso e produz encefalite [inflamação no
cérebro]. Por isso que, mesmo vendo só as bolhinhas no rosto, é um indicativo
de lesão cerebral. É grave", explica Luz.
Existem dois
tipos de vírus que causam o herpes: o tipo 1 e o tipo 2. A infecção pelo 1 é a
responsável pela maioria dos casos de herpes oral — que
causa feridas na boca que parecem aquelas acarretadas pelo frio. Já o
tipo 2 é o que dá origem à maioria dos casos de herpes genital. Segundo a OMS,
cerca de 3,7 bilhões de pessoas no mundo abaixo dos 50 anos têm o tipo 1 do
vírus, e 417 milhões, o tipo 2.
Contágio
"A
transmissão é feita pelo contato — principalmente íntimo, como um beijo — da
pessoa infectada com a que nunca teve herpes", explica Kléber Luz. Ele
lembra que, mesmo que as feridas não estejam aparentes, a pessoa pode ser
contaminada. O maior risco, no entanto, é quando as feridas — chamadas de úlceras
ou bolhas — estão aparentes.
A doença,
seja em sua variação oral ou genital, não tem cura, mas pode
ser tratada com antivirais, que ajudam a reduzir a severidade e a frequência
dos sintomas. Fatores como exposição ao sol e estresse podem
desencadear as feridas.
Como proteger os bebês?
Kléber
explica que, devido ao fato de a maioria das pessoas já ter sido infectada por
herpes — mesmo que não apresente sintomas —, a maior probabilidade é de que a
criança pegue a doença da própria mãe, por meio do contato com o canal vaginal
durante o parto normal. Segundo a OMS, isso acontece com cerca de 10 a cada 100
mil nascidos em todo o mundo.
Mas a doença
também pode ser transmitida se a pessoa infectada beijar o bebê — como Rafaela
relata ter sido o caso do filho. Por isso, é importante adotar alguns cuidados
na hora de visitar a criança.
Veja:
Em primeiro lugar, espere um tempo
O ideal é
não visitar a criança assim que ela nascer — espere pelo menos um ou dois
meses, inclusive para dar chance à mãe de se recuperar do parto.
"Recém-nascido
não é pra ser visitado, é pra ser cuidado. Uma mãe, uma tia, uma avó, encerra
aí. Hoje em dia é uma caravana pra visitar — e pega, beija, abraça",
recomenda Luz.
"A
criança é muito frágil, o sistema imunológico está debilitado. Quem tem que ter
contato é a mãe. Ficar em silêncio. Deixa a criança fazer um mês, dois meses,
que aí pelo menos já tomou as primeiras vacinas."
Evite segurar a criança
"Ninguém
tem que pegar o bebê no colo. Ele tem que ficar na dele, quietinho, longe de
todo mundo. Só quem pega é a família íntima. Tocar na mão do bebê, por exemplo,
é a mesma coisa que dar um beijo na boca dele, porque ele coloca muito a mão na
boca. E, se estiver doente, não vá visitar", diz a pediatra e professora
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Ana Escobar.
Se for pegar, lave as mãos e evite
beijar o neném
"Todo
bebê é um imunodeprimido — as defesas são baixíssimas", explica Ana. Por
isso tem que ser tudo esterilizado, para não contaminar. Não existe pegar num
recém-nascido sem lavar as mãos e ter passado álcool em gel. Beijar bebê não se
deve — só gente muito próxima, mas mesmo assim só com certeza absoluta de que
não está doente. Pode pegar com roupa limpa, tendo lavado a mão", diz a
pediatra.
E, por fim,
cuidado ao levar crianças junto
"Deixe
as crianças longe. Os pais têm que ter bom senso — criança gripada, resfriada,
não deve visitar, nem chegar perto ou respirar perto do bebê", orienta a
médica.